Estou só no cais, verão a arder, navios na bruma, não sei que fazer. Olho o mar ao fundo, distância a chamar, quem entra, quem parte, quem fica a sonhar.
Navio ao longe, fumo no ar, traz pedaços de sítios que não vou pisar. Velas erguem, vento a puxar, mas a minha alma só quer viajar.
Sinto no peito volante a girar, cada partida faz-me sangrar. Todo o cais é lousa pesada no peito, ancorado em regras a que não me sujeito
Navios que chegam, navios que vão, levam pedaços do meu coração. Navios que passam, sonho a correr, Aqueles que partem, nunca mais vão volver
Entre cais e navio abre-se espaço, a angústia recente cai no compasso. Névoa no peito, dor misteriosa, uma náusea doce, amarga, chorosa.
Talvez tenha partido antes de nascer, deixei o ventre materno ao amanhecer Um cais absoluto, fora do tempo, sombra gravada no pensamento.
Navios que chegam, navios que vão, levam pedaços do meu coração. Navios que passam, sonho a correr, Aqueles que partem, nunca mais vão volver
Ânsia marítima corre nas veias, mares distantes, praias alheias. Cada partida é vida a morrer, cada chegada um renascer. Chamam-me águas, chamam-me mares, vozes antigas, gritos ancestrais. E eu respondo, perdido no cais, alma sem porto, preso em sinais.
Navios que chegam, navios que vão, levam pedaços do meu coração. Navios que passam, sonho a correr, Aqueles que partem, nunca mais vão volver